Marciele Magalhães
A maternidade do primeiro eu
Você já ouviu falar nessa maternidade que considera a mamãe em primeiro lugar na escala de cuidados ?
Eu confesso que, para mim, já soou muito estranho priorizar a mãe. Minha sensação era de que seria uma escolha de exclusão: se a mãe cuidar de si, a criança estaria descuidada.
Parecia individualismo da mulher, era egoísmo da mãe não se dedicar, única e exclusivamente, à criança.
Ou, ainda, a mulher precisaria se deixar de lado para gestar, maternar. Posso dizer até que isso me deixava com uma vontade doída de fazer muitas coisas antes de ter criança, como se, depois, não pudesse mais fazer.
Olhando para isso hoje, percebo que, sim, há um tanto de coisas que podem esperar enquanto estabeleço esses primeiros cuidados com minha filha, que demandam tempo, energia e presença. Mas há um outro bocado que não podem esperar, até porque são essas que permitem que eu seja melhor para minha pequena.
Assim, essa tem sido minha matemática: primeiro eu, depois ela.
A equação é do cuidado leve, do amar responsável e saudável; mais livre, menos exigente; mais realista, menos conta de fadas; mais paciente, menos ansioso.
A continha simples e essencial: eu preciso estar inteira e disponível para viver a maternidade e todas as delícias e oportunidades de autodesenvolvimento que ela nos presenteia.
De um lugar mais amoroso, hoje, consigo perceber a grandeza dos grandes serem grandes para que os pequenos tenham espaço para serem pequenos. Cada um no seu lugar, torna tudo mais fluido.
Quando cuido de mim, percebo que também cuido dela, essa é a beleza de exercer essa missão de um lugar mais leve e com força. Sem vitimismo ou cobranças, como: “deixei tudo por você e agora você faz isso?”, “abandonei meu sonho, porque você nasceu”, esses e tantos outros discursos recheados de dor, carência e autoabandono que têm me feito cuidar muito de mim, de nós. Não espero colo e carinho dela, pois sei onde buscar e o que me cabe é oferecer isso a ela. A ela, cabe tomar o que eu dou.
Assim, temos a chance de deixá-los mais livres para se desenvolverem, para terem autonomia na própria vida e serem mais responsáveis por seu destino também.
Hoje, entendo que por ter sido mais pesado para minhas avós e para minha
mãe, pode, agora, ser mais leve para mim, para que o esforço delas tenha valido a pena. E, nesse mesmo ciclo de movimento, pode, então, ser mais leve para minha filha do que já é para mim. Esse é o fluxo natural da vida.
Que possamos viver uma maternidade mais leve, consciente e cuidando muitoooo de nós mesmas, permitindo-nos um banho demorado, um escalda pés, uma atividade corporal, umas boas risadas com as amigas, um descanso no sofá para assistir uma série ou, simplesmente, para ouvir uma boa música, um colinho da sua mamãe, não importa muito o como será, importa que tenha sentido para você, que seja um momento que você presenteia você mesma. Que seja um espaço em que se sinta permissão para se encher novamente.
E não espere o próximo mês para fazê-lo, comece agora, desfrute da alegria do autocuidado.