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  • Foto do escritorLuís Henrique de Oliveira

O Oxigênio da Vida

Quero começar com uma pequena reflexão. Pegue papel e caneta para escrever duas ideias:

  • O que você acredita, ou pensa que acredita, que traz felicidade?

  • Como você de fato age em relação àquilo que traz felicidade? O que você tem, por acreditar que trará felicidade, buscado em sua vida? No que você tem investido tempo e energia para obter mais felicidade?

Provavelmente, se você foi sincero, descobriu o mesmo que eu descobri, que essas duas listas não são coerentes entre elas. Dizemos que o que traz felicidade são os momentos simples da vida, mas estamos sempre buscando a próxima viagem internacional para nos realizarmos. Expressamos que a alegria está em passar tempo com quem amamos, mas preferimos fazer horas extras no trabalho para termos mais dinheiro, para comprar aquilo que, ilusoriamente, nos trará felicidade. Nosso discurso sobre o que traz felicidade é um, mas, na prática, demonstramos que sucesso, dinheiro, viagens, uma casa confortável é o que, verdadeiramente, acreditamos que trará a vida dos nossos sonhos.

Então, afinal, o que traz felicidade? A boa notícia é que a Universidade de Harvard investiga o assunto, desde 1936. Os estudiosos acompanharam, e ainda o fazem, 724 homens da adolescência até a velhice, sendo 456 da periferia de Boston e 268 alunos de Harvard, cruzando dados levantados ao longo de mais de 80 anos, como hábitos, saúde e profissão, para descobrir o que de fato é responsável por trazer felicidade. A conclusão dessa intensa pesquisa em nada difere daquilo que nossos avós tentaram nos ensinar insistentemente – bons relacionamentos nos mantêm saudáveis e felizes.

As três descobertas de Harvard sobre os relacionamentos

Nada é mais tóxico para nós, seres humanos, que a solidão. Como mamíferos que somos nosso processo de autorregulação, de homeostase do sistema nervoso, acontece principalmente por meio de engajamento social. São as relações que fazem com que nossas funções autonômicas cumpram bem o seu papel e possam reestabelecer o equilíbrio de nosso corpo. A solidão tem grande responsabilidade pelas mortes precoces, ou por uma vida sem significado ou sentido.

A qualidade das relações é relevante. Não basta simplesmente que tenhamos relações, precisamos ter boas relações. Relações que possam somar com quem somos, que acrescentem valores pra nós. Relações positivas que nos ajudem a crescer e, principalmente, que sejam representantes de confiança abundante.

Nosso corpo precisa de segurança e confiança para ter repostas adequadas de relaxamento. Relações nas quais a confiança ou a segurança são escassas mantém nosso sistema nervoso em constante estado de alerta e orientação defensiva – aumentando o estresse. Relações nas quais podemos ser nós mesmos trazem relaxamento e autorregulação.

Relacionamentos protegem o cérebro e as memórias. Relações duradouras importam muito para manter a saúde de nosso cérebro. Podemos ter algumas discussões nessas relações e isso não afetará, significativamente, nossa saúde, contudo, precisamos, acima de tudo, confiar que teremos pessoas ao nosso lado quando realmente precisarmos de ajuda. Contar com o outro é suficiente para a preservação de memórias.

Talvez, essa reflexão tenha feito você lembrar da tia amarga que ninguém gosta de estar perto, e tenha descoberto que ela está sozinha há muito tempo. Ou, então, tenha feito você lembrar do avô que morreu muito jovem, sozinho.

Talvez, ainda, tenha lhe ajudado a descobrir que a próxima pessoa a ficar sozinha pode ser você. O fato é – fomos feitos para nos relacionarmos e sem relacionamentos definhamos. Se observarmos alguém aos 50 anos, como poderemos prever que essa pessoa estará saudável e feliz aos 80 anos? Basta observarmos a qualidade das relações que esse indivíduo possui. Até os 50 anos nossas relações são “impostas” pela vida: nossos pais, filhos, muitos namorados disponíveis, colegas de trabalho e de escola. Depois dos 50 anos, quais relações permanecem? Apenas aquelas que fomos capazes de ativamente cultivar e cuidar.

Relacionamentos – o oxigênio da vida

Em 2006, participei de um treinamento imersivo de cura emocional vinculado a uma instituição missionária norte-americana (YWAM) e das tantas coisas que me marcaram, uma foi bastante especial. Duas são as nossas necessidades básicas emocionais, que são como tanques que precisam ser abastecidos diariamente: significado e segurança.

Precisamos sentir que nossa vida tem valor, que há um propósito em nossa existência. Nosso primeiro tanque emocional é abastecido quando sentimos que temos um lugar no mundo e que, nesse lugar, somos importantes, essenciais e insubstituíveis. A esse primeiro tanque chamamos de significado. Nosso significado tem conexão com nosso senso de pertencimento e pertencer para nós tem mais valor que estarmos vivos.

Amar e sermos amado é aquilo que nos dá a chance de descansar, na mesma proporção em que nos sentimos seguros. O segundo tanque emocional é preenchido quando recebemos amor e, igualmente, sentimos que podemos expressar amor, que esse amor pode ser reconhecido, acolhido e honrado. Nossa segunda necessidade emocional é de segurança. O que nos traz segurança é a clareza sobre como e para quem podemos expressar amor, e onde podemos ser amados de forma incondicional.

Como, então, podemos manter esses dois tanques abastecidos para nos sentirmos preenchidos emocionalmente? Por meio das relações profundas e duradouras. Nos próximos capítulos, caminharemos sobre os tipos de relações pelas quais enchemos esses dois tanques e, principalmente, qual a postura interna que devemos sustentar para assegurarmos a qualidade do vínculo relacional.

Ainda sobre as relações oxigenarem a vida, o que podemos observar sobre as nossas necessidades de sobrevivência? Como é possível que tenhamos sempre alimento disponível? Uma rede enorme de pessoas é responsável diariamente para que eu possa comer sempre que tiver fome. Alguém plantou, outro colheu, alguém transportou, outro vendeu, outro revendeu, depois foi comercializado e finalmente eu comprei. E o dinheiro que usei pra comprar? Provém das relações de confiança que tenho mantido – seja a relação de confiança com meu chefe, que decidiu não me demitir ou das relações com meus clientes que continuam consumindo meus produtos. E se eu perder meu emprego? Boas relações podem me ajudar rapidamente a ser reposicionado no mercado de trabalho. E se algo me deixar muito triste? Se eu tiver uma boa conexão com minha família e amigos, rapidamente poderei ser nutrido de novo e voltar a experimentar sentimentos felizes. Não importa pra qual esfera eu leve minha atenção, por trás do que alimenta a vida encontrarei as relações.

A qualidade das minhas relações

Agora que você já sabe o quanto as relações são essenciais para a vida, vamos explorar por meio de perguntas simples como você tem cuidado das relações. A tarefa da semana consiste apenas em olharmos para as relações atuais e responder, ao longo dos próximos dias, de que forma tenho interagido:

I. Por meio de quais relações hoje eu me sinto nutrido? Quais as relações que sinto que oferecem algo de bom pra mim? Com quem eu conto se precisar de ajuda? Se eu adoecer, quem estará disponível para me cuidar? Quem abastece meu coração de amor e carinho?

II. Em quais relações eu, prioritariamente, ofereço nutrição? De quem eu cuido e estou constantemente à disposição para oferecer mais cuidados, caso sejam

necessários? Quem eu estou frequentemente consolando e alegrando? Para quem eu tenho oferecido amor, mais que recebido?

III. Em quais relações, atualmente, eu sinto que ofereço nutrição e recebo nutrição, num livre e constante fluxo? Por quem eu sou cuidado, na mesma medida em que eu cuido? Com quem, hoje, eu formo um “time”, estando disposto a caminhar junto com essa pessoa, compartilhando tanto os momentos bons, quanto os ruins?

IV. Quais as relações que mantenho mais por conveniência? Que não acrescentam, que eu não acrescento ou ainda que subtraem? Quais relações eu poderia começar a me despedir hoje, para talvez usufruir ainda mais da vida logo depois?

Meu convite é que você comece fazendo uma lista de relações pertencentes a cada tópico. Depois observe ao longo da semana os ajustes que precisará fazer na lista, talvez, trocando pessoas de lugares. Enquanto você observa as relações que mantém, pergunte-se se essas relações estão em ordem, ou se a forma como elas têm acontecido não é a mais leve, lembrando o tempo todo de ser grato a cada uma dessas relações, afinal de todo o jeito elas têm ensinado algo pra você. Também, para nos despedirmos bem de alguém, precisamos primeiro sermos gratos ao que essa pessoa representou e representa pra nós.

Nos próximos capítulos, vou te convidar a promover pequenas mudanças de posturas em cada uma dessas relações, mudanças que têm se mostrado bastante efetivas para tornar as relações mais leves e saudáveis – então aproveite bem esse passo preparatório!

Boa exploração!

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