Flávia Regina Hemkemeier
Somos a melhor chance
Cresci vendo minha mãe trabalhar muito, passar necessidade, não podendo estar tão disponível e, por muitas vezes, sofrendo, chorando escondida. Vendo nossas mães sofrerem o que a gente consegue sentir, lá no fundo, é uma solidariedade ao sofrimento. Somos leais ao sofrimento e nosso primeiro impulso, quando vemos alguém que amamos sofrer, é sofrer junto! Só que isso desrespeita o outro, pois não deixamos outro seguir o seu destino e nem vemos o amor que ele vê e sente por nós! Sem perceber o quanto estou cega pelo tanto que amo a minha família, vejo somente o sofrimento e deixo de perceber e fico completamente inconsciente do quanto sou amada. Deixo de ver o amor que vem de lá para cá! Então, agora, se me dispuser a ter contato com esse amor, o que vai ficar diferente na minha vida? E o que isso tem a ver com eu ser a melhor chance da minha família? 1. Sou a melhor chance da minha família, porque sou a continuação biológica – biologicamente sou a melhor chance deles. É nesse momento que eu lembro que somos compostos dos nossos pais, (se pegarmos um pelo do nosso braço e analisarmos no microscópio vai estar lá: DNA do pai e da mãe). Por isso, por sermos pai e mãe, é que seguimos com a necessidade de pertencer a esse grupo ou clã. Bert diz que é mais importante para nós sabermos que pertencemos! Sendo assim, não gostamos de solidão, não suportamos seguir a vida sozinhos, precisamos de um grupo, um bando! 2. Sou a melhor chance da minha família, porque hoje a vida é mais fácil, o piano já foi carregado, então, posso sentar e minha parte é tocá-lo! A “parte” difícil, eles já fizeram e eu posso aproveitar. Quando começamos a fazer um pouco diferente de nossos pais e familiares e conquistamos mais coisas do que eles, porque, atualmente, a vida tem mais facilidades, sendo bem sinceros, o que realmente nós sentimos? Lá no fundo de nossa alma, onde somos leais a tudo que veio antes, concordemos ou não, o que sentimos? Aparentemente, podemos sentir alegria por nossas conquistas, por estarmos fazendo de um modo mais fácil, mas, bem no fundo, lá no fundo, o que realmente aparece é tristeza e culpa, (e em contato com essa culpa nosso movimento natural é de sofrer ao invés de perceber que eu sou a melhor chance da minha família. Por lealdade, eu quer dividir o peso que eles carregaram), faço isso perdendo dinheiro, fracassando, não levando a vida adiante. 3. Sou a melhor chance porque o sofrimento só tem sentido quando ele vira propulsão para ação! Sou a melhor chance de eles usufruírem através de mim as alegrias e conquistas por eles almejadas. Perceber que toda a falência que meu pai precisou passar, todos os empréstimos feitos, a sua partida em situação de endividamento, ele não dá mais conta de resolver, mas eu posso ainda fazer diferente, o que aconteceu com eles eu não preciso repetir. Se meus pais tiveram um casamento infeliz, eu posso ter um casamento feliz por ver o amor deles por mim, querendo que, para mim, seja mais leve. Perceber quantos recursos a mais nós temos hoje em dia e reconhecer que eles fizeram tanto com menos recursos, essa é a chave. Sugiro um exercício para que possa perceber qual é o desejo daqueles que vieram antes para nós: com os olhos fechados, olhem para os seus pais ou para quem te cuidou, internamente no seu coração, diga que para você pode ser mais leve e imagine sua vida para frente, você com mais dinheiro, com um trabalho bom, crianças felizes e vivendo em uma boa casa, que talvez seja do jeito que sua avó sonhava ter. Se vendo com tudo isso, nesse momento aí onde está internamente, experimente olhar por cima do ombro para trás e veja como sua família lhe olha desfrutando de todas as conquistas que foi o sonho de muitos...e desfrute de uma vida mais leve, por eles!!!