Laís Bottene
Vergonha pra quê?
Vergonha pra quê? Era o que eu sempre ouvia da minha mãe quando me agarrava nas pernas dela para me esconder de qualquer pessoa que chegasse perto. Lembro-me como se fosse hoje que o meu sentimento era de que eu não podia estar sozinha e que me agarrando a ela, então, eu poderia me sentir mais segura. Além disso, eu tinha muito medo de desapontá-la, então, deixava de dizer coisas, ou ter alguns comportamentos, para que as outras pessoas ou até mesmo a minha mãe não reagissem, com desaprovação, ou com uma super aprovação, que me deixaria ainda mais envergonhada. E quando ela dizia vergonha pra quê? Eu me sentia ainda mais inadequada, pois eu, realmente, não sabia porque ou pra quê, ou qual o sentido daquele sentimento que me paralisava, a vergonha.
Os anos foram passando e quanto mais eu deixava de me expor a pessoas e a experiências novas, mais a vergonha tomava conta de mim. Eu deixava de dizer o que pensava e o que sentia, novas ideias que tinha, por me sentir inadequada e achar que não importaria para quem ouvisse. Ou pior ainda, para não errar, eu preferia não correr o risco de acertar, e assim o tempo foi passando, e eu perdendo oportunidades, de errar, mas, obviamente, de acertar alguma vez.
Me deparei com o fato de não saber mais o que eu gostava, quais os meus desejos, ideias, e até mesmo se podia ou não estar sentindo o que sentia. Eu estava mais preocupada com o que os outros iriam pensar do que com o que eu realmente queria expressar. Me dei conta de que estava tão distante de mim, que nem ao menos podia ouvir ou sentir o que eu necessitava, pois eu estava muito preocupada em ser aceita, em ser coerente e em ser bem-vinda por onde eu passava.
Comecei a buscar espaços e pessoas estranhos ao meu cotidiano e fui experimentando a segurança de falar e fazer o que eu realmente queria, percebi também que as pessoas não estão tão interessadas naquilo que a gente emana, que algumas nem ouvem, e que se eu falasse alguma “bobagem” (julgada por mim), no próximo minuto, ninguém mais lembraria, fui falando, fazendo, mesmo com medo, me expondo. Observei ainda que cada um tem seu jeito peculiar de receber o que vem do outro, isso diz respeito a sua própria maneira de ver a vida, e não a minha.
E o que eu descobri e ganhei com isso tudo? É que a gente pode contribuir e muito com as outras pessoas, desde que a gente não queira as impressionar, ou dizer e fazer o que a gente acha que elas querem, afinal de contas a gente nunca vai acertar desse jeito, mas se formos bem sinceros conosco, com a nossa história, e com tudo o que foi exatamente do jeito que foi, assim temos chance de impactar, quase que sem querer, as pessoas a nossa volta, principalmente, dando a chance a nós de sermos quem somos, podemos também dar ao outro a chance de ser quem ele é.
E aquele meu medo de não pertencer, ou de ser inadequada? De vez em quando me visita, aí eu me lembro de todas as vezes que não disse a coisa que julgava certa e, mesmo assim, as pessoas estavam ali, e me lembro também que ainda é possível ter a aprovação do outro, mesmo errando, desde que possamos rir juntos dos nossos erros.